No seguimento do artigo anterior, onde partilhei a 1ª regra, segundo Daniel Coyle, do livro "O Código do Talento", hoje partilho a segunda regra, fazendo uma pergunta inicial:
Como poderia rapidamente o Cristiano Ronaldo diminuir a sua perícia? O método que melhor nos garantiria isso é: tirando-lhe todo o treino durante 30 dias. Nas palavras do pianista que tocou até aos 80 anos, Vladimir Horowitz: “Se não treinar um dia, noto. Se não treinar dois dias, a minha mulher nota. Se não treinar três dias, o mundo nota.”. Horowitz parecia falar, e saber, que a mielina é um tecido vivo que, tal como muitos outros no sistema humano, passa por um constante ciclo de decomposição e reparação. Apesar de um circuito neuronal deixar de ser percorrido por falta de prática de uma acção, a mielina continua a revestir esse circuito. No entanto, sem o reforçar, sem potenciar a ligação neuronal e, logo, sem a melhoria da acção e do talento. Já descobriu a segunda regra para desenvolver talento? Sim! É a repetição! Treino. Mas um tipo específico de treino, treino de uma forma em particular. Parafraseando uma célebre frase associada ao treino de alta performance: o treino não traz grandes melhorias, o treino “perfeito” traz grandes melhorias. Entende-se aqui por “perfeito” o treino deliberado, o treino intencional, o treino intensivo. Por oposição ao treino extensivo, passar horas e horas a fazer uma atividade. Sabemos que no treino convencional treinar mais é melhor que treinar menos. Tal como sabemos que já foi comprovada a Regra das Dez Mil Horas para alcançar a mestria. Agora, no treino intensivo: mais tempo é eficiente apenas quando estamos no ponto limite das nossas capacidades, atentos à forma como treinamos, melhorando cada movimento. Dessa forma, estamos a reforçar e aprimorar os circuitos neuronais que são disparados na actividade que se treina. Neste treino deliberado, independentemente da destreza que se procura, Anders Ericsson descobriu que os peritos mundiais em diversas áreas treinam, em média, entre 3 e 5 horas por dia. No seu caso, quantas horas por dia treina deliberadamente? E a sua equipa? Nas dezenas de equipas de profissionais que já ajudei, há uma pergunta que se destaca entre as que me fazem: “Mas como posso ter tempo para treinar se estou quase sempre a trabalhar?". E quer a formação, ou o coaching, que faço incida em liderança, comunicação, gestão de conflitos, criatividade, trabalho em equipa, alinhamento organizacional, motivação, posso sempre responder com: Imagine que cada pessoa na sua empresa ganhava skills para desenvolver o seu talento, treinando autonomamente em cada interacção profissional, em cada oportunidade, em cada momento… o que aconteceria? Reforce o seu talento... treine de forma intensiva, intencional! João Ricardo Pombeiro * O Código do Talento; Daniel Coyle; Livros d’Hoje, Publicações Dom Quixote (Grupo Leya); 2009 Ver Como desenvolver talento parte 3 (em breve) Previamente publicado no site da LIFE Training, aqui.
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Antes de respondermos à pergunta no título, seja em si ou com outros, importa começar por questionar: para que quer desenvolver talento? Poderá ser para desenvolver determinados skills, para aumentar os seus resultados, para se integrar numa equipa, para experimentar uma actividade diferente, para ficar melhor num hobby, num desporto, a liderar, a comunicar, a vender, ou noutra arte.
Então, poderá perguntar-se: Mas o talento desenvolve-se?, E como desenvolvo talento? No livro O Código do Talento, Daniel Coyle refere 3 regras essenciais por trás do desenvolvimento consistente de talento. Coyle viajou à volta do mundo para observar o que acontece na prática em centros de treino de alta performance, ou viveiros de talento como ele lhes chama, em diversas áreas. As 3 regras resultam dessa observação, da pesquisa de vários estudos, das diversas conversas com treinadores, high performers e neurocientistas. Neste texto abordamos a primeira: Decompor. O célebre um passo de cada vez. Mesmo que nalgum momento no passado não tenha acreditado, lhe pareça difícil ou demasiado simples… É assim tão eficaz, simples e intuitivo! A primeira regra para desenvolver talento é “partir” em pedaços, decompor o treino da actividade em que nos queremos desenvolver. Nesse Decompor existem 3 passos que potenciam o treino: 1. Absorver o todo; 2. Compartir em fragmentos; 3. Abrandar. 1. Absorver o todo: observe (num modelo de referência) a execução da habilidade em que se pretende desenvolver. Como diz Anders Ericsson, psicólogo sueco que estuda talento há mais de 30 anos: “estamos programados para imitar” e esta acção muitas vezes é muito inconsciente. Também por isso, acredito que qualquer pessoa tem muito a ganhar em aprender e dominar a arte da Modelagem como trabalhada em Programação Neuro Linguística há mais de 40 anos. 2. Compartir em fragmentos: desmonte uma perícia, uma ação, nas suas partes. Cada uma terá um circuito neuronal que é disparado cada vez que a observa e cada vez que a pratica. Depois, memorize essas partes individualmente. A seguir, repita a memorização juntando-as progressivamente em conjuntos maiores. Assim, estará a interligar esses circuitos neuronais. 3. Abrandar: pratique mais lentamente cada parte da atividade a desenvolver. A ideia é, por exemplo, fazer 3 a 5 vezes mais devagar; treinar durante 3 horas um excerto de minutos de uma música de 3 horas; treinar 30 minutos a leitura de um parágrafo do texto com 3 páginas que vai comunicar; e depois treinar as partes seguintes. Pois “não se trata da velocidade de execução. Trata-se de quão devagar podemos executar correctamente” diz Tom Martinez (treinador de futebol). O Abrandar permite que se preste maior atenção a pequenos erros, ou desvios, aumentando o grau de precisão; e, desenvolver uma maior percepção da perícia no plano interno – “a forma e o ritmo da interligação dos circuitos” neuronais associados à actividade em que está a desenvolver talento! Independentemente do que acredita sobre este tema, talento é diferente de matéria-prima. Todos temos a principal matéria-prima necessária para desenvolver talento: mielina. Esta é a matéria que se desenvolve em torno das ligações neuronais. De cada vez que os neurónios de uma ligação neuronal “disparam”, a mielina isola-a e reforça-a. Assim aumenta o “canal” neuronal por onde circula a “informação” de um pensamento, do movimento de um músculo, de todas as actividades que ocorrem no sistema humano. Eu sei, é uma descrição menos glamorosa e romântica do desenvolvimento de Talento. :) Essa parte virá da Paixão pelo que quer desenvolver! ;) Se não sabe ou não tem a certeza de que talento quer desenvolver... contate-me. Se já sabe... teste! Escolha uma actividade que pratica e em que gostava de desenvolver o seu talento (se escolher uma actividade que ainda não pratica garanta que arranja o tempo para treinar). Siga os 3 passos desta primeira regra. Observe os resultados que obtém nas próximas semanas. Se quiser continuar a desenvolver talento, leia o próximo artigo com a segunda regra! João Ricardo Pombeiro Referências: * O Código do Talento; Daniel Coyle; Livros d’Hoje, Publicações Dom Quixote (Grupo Leya); 2009 * The Inner Game of Tennis; Timothy Gallwey; Random House Trade Paperbacks; 2008 Ver Como desenvolver talento parte 2. Previamente publicado no site da LIFE Training, aqui. O José estava a preparar-se para se reunir com a Rita. Enquanto chefias de topo de uma área crítica na sua organização, o final do primeiro semestre é sinónimo de “avaliar onde é que o budget foi cumprido, como estão os kpi’s, onde se chegou no objetivos traçados”. Imaginando que ela pouco ou nada iria preparada para a reunião, o José achava que lhe cabia a parte de compilar e organizar os dados e kpi’s necessários.
Acreditamos que pessoas diferentes reagem de formas diferentes a uma estrutura de medição, à análise de dados, à observação do que está a ser feito. Ao nível da lógica, pessoas com pensamento mais estruturado podem estar mais à vontade e ter maior propensão para medir, analisar, observar; por outro lado, pessoas com pensamento menos estruturado podem estar menos atraídas e menos à vontade, imaginando que terão que se esforçar bem mais para definir e cumprir com as métricas. Depois de se ter deparado com a Programação Neuro linguística (PNL) e visto a sua elevada utilidade na liderança, a Rita aprofundou o seu domínio e descobriu os metaprogramas, primeiro, numa formação com um modelo de análise comportamental e, depois, numa certificação como Master em PNL. Percebendo o impacto que estes têm no comportamento habitual de uma pessoa, Rita decidiu focar-se no que controla e onde pode causar maior impacto nos seus resultados e, assim, na sua organização. A Rita sabia que o José levaria uma data de dados em kpi’s apenas de Lag Metrics – métricas que avaliam o resultado actual, basicamente respondendo à pergunta “Tivemos sucesso ontem?”. Então, decidiu levar outros dados para a reunião, uns que sentia serem essenciais para perceberem se atingiriam o objetivo não só deste ano mas também do próximo ano. Juntou informação sobre como as equipas fizeram as tarefas no dia-a-dia. Depois, separou a informação sobre a forma como fazia quem estava a obter excelentes resultados, nalguns superando até o objetivo a que se propôs, contratou uma pequena equipa de consultores dedicados e foram construídas e aplicadas Lead Metrics adaptadas à realidade da organização. Sendo as Lead Metrics aquelas métricas que possibilitam prever os resultados futuros, no essencial, que permitem respostas à pergunta “Seremos bem sucedidos amanhã?”; aparentemente, algumas organizações e líderes ainda não observam a sua realidade de uma perspectiva que lhes permita ver o que realmente está a ser feito e de que formas. Pois, se observassem os comportamentos sem julgamento (sem avaliarem o que devia ou não estar a ser feito, se é bom ou mau, se está certo ou errado), teriam dados para verem que algumas das atuais estratégias, opções e acções não são as mais indicadas para concretizarem os resultados que desejam. E se vissem isso já teriam, acredito, aplicado o Terceiro Princípio da Excelência – tal como abordado na PNL: a Flexibilidade Comportamental. Lembre-se que a pessoa não é apenas o seu comportamento. Ela é muito mais do que isso, é muito mais do que uma série de comportamentos, do que a forma como faz. Aceite a pessoa, influencie o comportamento. José iniciou a reunião a dizer “Isto foi pior do que esperávamos… Não alcançámos 40% das metas intercalares e estamos 33% aquém do objetivo anual”. Ao que a Rita respondeu “Pois… eu sei. E se continuamos a fazer o que temos vindo a fazer, não me parece que para o ano cheguemos ao objetivo!”. “Não, não pode ser! Para TEM que ser diferente! Aliás, nem sabemos como vai acabar este ano quanto mais o próximo!”, afirmou peremptório o José. “Não tenho a certeza se sim ou não. Sei que o resultado que teremos vai depender do que façamos diferente daqui para a frente. Mas os dados apurados pelas Lead Metrics que criei com uma equipa de especialistas, indicam isso. É como se tivesses como objetivo perder 10 quilos no teu peso até ao final do ano. Se mantiveres a tua alimentação igual e sem fazeres exercício físico, ao observares esses comportamentos em cada dia é fácil perceberes que no final do ano vais ficar longe do teu objetivo! É isso que se quer? Não. Então… o que vamos fazer?” Resolveram começar por escrever um guião: * Foque a sua observação, sem julgamento, em comportamentos de facto e descreva esses comportamentos. * Perceba quais estão a impedir ou afastar do resultado desejado. * Imagine, partilhe e faça os comportamentos que acredita gerarem esse resultado desejado. * Rodeie-se de um grupo de influência positivo que mutuamente se apoie e peça accountability, responsabilização mútua: “Quando vais fazer? Fizeste? Já experimentaste x? Como te posso ajudar?”. Ficou “perdid@” algures? Tudo bem. Peça ajuda. Para ajudar a concretizar os resultados que pretende, recomendo mesmo que aumente a sua consciência sobre o que acontece e a forma como se está a fazer, observando e medindo apenas três a cinco pontos-chave que são mesmo importantes para o que quer ver a acontecer. Isso permitir-lhe-á concentrar o seu foco no que faz a diferença. Seleccione uma ou duas para agir. Assim poderá melhor dedicar-se, usar os seus recursos internos e fazer as coisas acontecerem! Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos na empresa do José e da Rita! ;) João Ricardo Pombeiro Previamente publicado no site da LIFE Training, aqui. |
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